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STF

Cúpula das Forças Armadas procura se distanciar de trama golpista durante depoimentos no STF

Garnier negou ter colocado tropas à disposição, e Braga Netto disse não ser verdade que entregou dinheiro a Cid

A cúpula das Forças Armadas no governo Bolsonaro tentou na terça-feira se distanciar da suposta trama golpista que motivou ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ex-comandante da Marinha, Almir Garnier negou, por exemplo, ter coloca suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro, e o ex-ministro da Defesa Braga Netto — vice na chapa à reeleição —afirmou que o tenente-coronel Mauro Cid mentiu ao dizer que recebeu dele dinheiro em uma caixa de vinho para financiar a ofensiva antidemocrática.

Foram na mesma linha os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), este último usando o direito de ficar parcialmente em silêncio.

 

Ao responder questionamentos do ministro Alexandre de Moraes, Garnier confirmou ter participado de reunião no Alvorada em que foi discutido o “cenário político e social” após as eleições de 2022 e disse que um dos assuntos foi a possibilidade de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Ao depor no mês ado como testemunha, o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Junior afirmou que Garnier colocou as tropas da Força “à disposição” de Bolsonaro. O brigadeiro afirmou que ele e o ex-comandante do Exército Freire Gomes estavam alinhados contra as intenções do então presidente, e que Garnier tinha uma posição isolada. Em depoimento à Polícia Federal em 2024, o almirante ficou em silêncio.

Na terça-feira, o ex-comandante da Marinha afirmou que não expressou sua opinião durante a reunião:

— Não houve deliberações, e o presidente não abriu a palavra para nós, ele fez as considerações dele, o que pareciam para mim mais preocupações e análise de possibilidades, do que propriamente uma ideia ou intenção de conduzir alguma coisa numa certa direção. A única que eu percebi que era tangível e importante era a preocupação com a segurança pública, com a qual a GLO é adequada dentro de certos parâmetros.

Ordens por escrito
O almirante disse que, como militar, se ateve às suas funções e que, como subordinado, teria o direito apenas de cumprir ordens por escrito. Segundo ele, qualquer outra possibilidade são “ilações”.

— A Marinha é extremamente hierarquizada e nós seguimos bem à risca o Estatuto dos Militares, que diz que a um subordinado é dado apenas o direito de receber por escrito uma ordem que ele receba e considere flagrantemente ilegal. Até que isso aconteça, para mim ilações, discussões, ouvi aqui coisas como conversa de bar. Eu era o comandante da Marinha, não era assessor político do presidente. Eu me ative ao meu papel institucional — disse ele.

Braga Netto, por sua vez, disse que Mauro Cid mentiu em sua delação premiada ao relatar que o financiamento do plano golpista foi discutido em uma reunião com dois integrantes das Forças Especiais do Exército, os “kids pretos”, em seu apartamento:

— Cid faltou com a verdade. Foi uma visita de cortesia. Só os recebi porque conhecia o Cid e ele disse que queriam me cumprimentar.

O ex-ministro está preso preventivamente desde dezembro de 2024, por suspeita de obstrução de Justiça, e prestou depoimento por videoconferência. Após a oitiva, a defesa voltou a apresentar um pedido de liberdade ao STF.

Braga Netto negou que tenha reado dinheiro um uma caixa de vinho a Cid, supostamente para financiar a ofensiva antidemocrática. Segundo Cid, a verba foi reada por empresários do agro.

— Isso não corresponde à realidade. Eu não tinha contato com empresários, então não pedi dinheiro e não entreguei dinheiro para ninguém. Os empresários estavam mais interessados no Bolsonaro do que em mim — disse Braga Netto, negando ainda que tenha ouvido falar de um plano para ass autoridades.

Ao ser questionado por sua defesa, o ex-ministro afirmou que o resultado das eleições de 2022 foi legítimo e negou qualquer ação por um golpe militar após a derrota de Bolsonaro para Lula:

— Não teve fraude.

Já Paulo Sérgio Nogueira afirmou na terça-feira ter alertado Bolsonaro sobre a “gravidade” de decretar estado de defesa ou de sítio. O ex-ministro da Defesa fez um relato sobre reunião em 7 de dezembro de 2022 no Alvorada.

— Depois que terminou a reunião, cheguei ao presidente. Eu, pessoalmente, acho que Freire Gomes estava do meu lado. Alertando da seriedade, da gravidade, se ele estivesse pensando em estado de defesa, estado de sítio. A gente conversando ali, uma tempestade de ideias, as consequências de uma ação futura, que eu imaginava que poderia acontecer, se a evolução realmente das coisas fosse em frente.

Nogueira disse que aconselhou o então presidente, posteriormente, a não entrar mais neste assunto:

— Eu conversei: “Presidente não se fala mais nisso, homem”. E realmente eu acreditei. A reunião do dia 14 foi exatamente para fechar questão e não tratar mais nos assunto.

Nogueira chegou a dizer que tratou a atuação do Tribunal Superior Eleitoral de forma inadequada durante reunião ministerial em julho de 2022. Ele se desculpou com Moraes, que era presidente da Corte.

Ao responder apenas às perguntas feitas por sua defesa, o general Augusto Heleno negou qualquer o à minuta do golpe, disse que não conhecia o documento em que aparecia como líder do “gabinete de crise” e que não sabia de planos para a prisão de autoridades. Heleno afirmou ainda que tomou conhecimento dos atos do 8 de janeiro pela TV e que soube da chegada de ônibus em Brasília pela imprensa.

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