Morre o embaixador Marcos Azambuja, ícone da diplomacia brasileira
Embaixador representou o Brasil em grandes eventos da política internacional, como a coordenação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92
Considerado um dos principais nomes da diplomacia brasileira, Marcos Azambuja ou por postos estratégicos nas Américas e na Europa, além de ter representado o Brasil em diferentes eventos marcantes. Na década de 1990, foi embaixador do país na Argentina (1992-1997) e na França (1997-2003).
Também chefiou a delegação do Brasil para Assuntos de Desarmamento e Direitos Humanos em Genebra (1989-1990), na Suíça, onde fica a sede da Organização das Nações Unidas (ONU). O embaixador morreu ontem, aos 90 anos. A causa não foi informada.
Azambuja foi coordenador da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cúpula da Terra Rio 92). No Ministério das Relações Exteriores, serviu como secretário-geral (vice-chanceler), tendo atuado antes em Londres, Cidade do México e Nova York.
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Carioca, Azambuja exercia atualmente a função de conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), entidade que ajudou a fundar, e que classificou o diplomata como um “articulista de fina prosa”. Ele também atuava no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e na Fundação Roberto Marinho.
Mensageiro da paz
O embaixador também foi integrante da Comissão de Armas de Destruição em Massa e do Fórum de Tóquio para a Não Proliferação Nuclear e Desarmamento. Em uma de suas últimas entrevistas, ao podcast “O assunto”, do portal g1, o embaixador defendeu a importância da postura pacificadora do Brasil no cenário global de guerra entre a Rússia e a Ucrânia:
— O Brasil não deve se voluntariar (como mediador de conflitos), o Brasil deve ter um comportamento que crie credibilidade o bastante para que nos vejam como um instrumento necessário — afirmou Azambuja ao analisar a tentativa do governo Lula de propor um “clube da paz” para discutir a guerra na Ucrânia.
Azambuja defendeu que o Brasil possui legitimidade moral para falar em nome da paz por ser um país com “fronteiras impecáveis, em perfeita harmonia”. No entanto, o desejo de mediar conflitos não basta.
— Às vezes, as suas ferramentas não são as ideais para o que você está querendo, mas se o Brasil continuar falando que quer contribuir para a paz, para o fim do conflito, para o fim do sofrimento, está dizendo as coisas certas — reforçou.
Em entrevista à colunista do Globo Míriam Leitão, Azambuja também tratou sobre a guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump:
— Com Trump, os Estados Unidos vivem mais um episódio do seu ciclo imperial. Outros governantes tinham pretexto para agir. Ele age por impulso próprio, quando não há provocações. O México não quer território, o Canadá não está fazendo nada, a Groenlândia está quieta, e ele vai num crescendo. É o grande imperialista agindo sem roteiro claro — avaliou o embaixador em fevereiro.
À CNN, em junho de 2024, Azambuja comentou o “derretimento” do Ocidente e o impacto da inteligência artificial:
— Estamos vivendo um momento de tal velocidade da transformação e, no centro dela, há uma coisa que eu estou um pouco obsessivo, que é a inteligência artificial. Pela primeira vez estamos na frente de uma ameaça.
Azambuja produziu textos para diferentes publicações ao longo da carreira e trabalhava em um livro que reuniria seus escritos, “que versavam sobre os mais diversos assuntos, diplomáticos ou não”, apontou o Cebri.
“Com sua partida, o mundo ficou menos inteligente, menos divertido e menos sábio. Para o Cebri, em particular, trata-se de uma perda irreparável, uma vez que o embaixador era um colaborador atuante desde a sua fundação”, lamentou, por nota, a entidade.